sábado, janeiro 19, 2008


De tempos em tempos a vida costuma dizer o quanto não podemos controla-la. Com alguns ela é gentil, mas com outros ela é ironicamente avassaladora. Imprevisivel!!! Essa é a palavra! Esqueçamos todos os mediuns, videntes, umbandas, macumbeiros, profetas e astrologos. Um dia nada mais é que um dia para o tempo. O tempo não se adequa as necessidades dessa raça moribunda que é o ser humano, ele vai atropelando qualquer vestigio de insegurança, devora com seus minutos a indecisão dos fracos e os mastiga com seus dentes infectados por aflição.
Mesmo sabendo disso tudo insistimos em vacilar. Claro, somos fracos diante a imensidão do tempo. É como subir no parapeito de um edificio de 700 andares, olhar para baixo e para cima. Ja não da para saber onde fica você mesmo. E sobre a queda... bom, deixa para la.
Depois das estrelas a chuva. O céu vermelho, os passos largos, gota após gota. Uma sucessão de sucessões, a vida. Na manha seguinte aquela sensação de oco. Uma tontura nas paredes, gosto de pesadelo na boca. Saí em direção. Qual direção ainda não sabia. Era sábado de manhã, uma manhã apenas. Seu nome rotacionava como um planeta em volta da minha cabeça e como um câncer dilacerava qualquer pensamento. Tropecei então numa loja onde uma amiga trabalhava, Silvia o seu nome. Era uma loja simples,algumas cadeiras para os clientes, um balcão de madeira, as roupas penduradas pelos cantos. Entrei tentando com os olhos encontrar alguma conversa, mas a loja estava vazia. Achei preços que me deixaram a sensação de não saber medir o valor das coisas. Casuais absurdos da vida. Mas a loja continuava vazia. O caixa, o provador de roupas, o condicionador de ar ligado. ''Talvez ela esteja no banheiro,'' Sentei-me numa das cadeiras, e continuei a flutuar o olhar pela loja, observando qualquer detalhe inútil. Reparei uma comigo-ninguém-pode em um dos cantos. Ficava perto da porta de vidro, talvez na intensão de deixa-la receber o reflexo do sol no asfalto. No chão a sua volta havia algumas gotas de algum líquido parecido com seiva. ''Deve ter chorado a noite toda, coitada. E agora fica aqui nessa porta tomando um sol petrificado. Deve nem saber que existe um lugar chamado floresta, onde as plantas vivem em harmonia.'' Ri de mim mesmo. Rosolvi observar o trânsito. Quase que imediatamente fixei o olhar numa kombi da prefeitura. ''SERVIÇO SOCIAL DE...'' a última palavra faltava. O trânsito a parou bem em frente a loja, e dentro da kombi branca pude observar alguns individuos meio agitados. Uma garota, talvez 18 anos, cabelos castanhos, óculos rayban e chapeu de crochê, grudou seu olhar no meu. Tentei ler seus lábios... ''??nheço ele''... apontando em minha direção. Olhei para traz como se de alguma forma eu pudesse ser invisivel naquele momento e ela pudesse ver através de mim. Quando olhei de volta o trânsito ja havia afrouxado e a kombi partia em uma direção qualquer. Mas ela estava grudada no vidro, a ponta do nariz encostada na janela, agora olhava por cima dos óculos. ''Tchau'', eu pensei. Nem sinal de Silvia. Apontei os dedões do pé para a saida e continuei minha caminhada insólita. ''Como pode alguém trabalhar numa loja e não estar nela a maior parte do expediente?''
Caminhei durante vários cigarros. Quase um ''Forest Gump'', menos saldável e entusiasmado porém. Até me encontrar diante do portão Dela. Toquei a campainha e Ela me atendeu no interfone.
-Quem é? - sua voz estava irritada
-Jude!? Sou eu! - me faltou entusiasmo para me anunciar.
- Não posso falar agora.
- Está tudo bem?
-Sim, sim. Depois explico, ta?
-Tá!
...silêncio
Naquele instante não imaginei o quanto meu dia seria longo...