sexta-feira, fevereiro 26, 2010

um devaneio qualquer

"Estranho pensar na vida como um eterno vai-e-vem desmedido. Estranho me sentir angustiado com coisas que nunca vivi, mas que sei que acontecem. Gostaria de ser um pouco menos questionador, talvez facilitaria a minha tão ansiada plenitude. Estou sempre me cansando e descansando de transformar minhas angustias em fumaça e alcoolismo. Como se ao evaporarem o alcoól e o carbono pudessem me transportar a algum momento de satisfação. O máximo que consigo é me aproximar de uma estúpida ressaca e de um câncer qualquer.
Essa mania de desconstruir as coisas ainda vai me enlouquecer. Já me vejo velhinho perdido entre a sala de estar e a cozinha espalhando meus absurdos obtusos pelos corredores da minha quase vida. Se eu pudesse guardaria toda paixão inútil, toda ingenuidade infantil e todos outros momentos que acho merecerem maior valor memorável para transformar tudo em um elixir contra a solidão mendiga que vejo cada vez mais próxima do meu futuro sofá vermelho de três lugares.
Só que agora já penso que ser tão questionador não seja de todos o maior mal, talvez seja na verdade a minha salvação, o que me livra de certos comodismos aos quais a raça humana vem sendo cada vez mais suscetível. O problema é que quando preciso escapar ninguém vai me oferecer alguma solução. É mais fácil instigar nos outros esse sentimento de impotência diante todas essas conjecturas malucas formuladas a partir sabe-se lá Jesus.
O amor é o que me torna sóbrio e mais próximo de mim."

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

divagações do fim de rock

Qual seria a surpresa ao sair numa madrugosa cidade do interior e não encontrar nada além do que pessoas em busca de prazeres. Mas não limite a palavra prazer aos ditos da carne. Tanto os prazeres mentais, sociais e, me atreveria a dizer, espirituais, quanto os diretamente ligados às experiências corporais aparentemente complementam as nossas necessidades.
Ao ver o olhar daquela prostituta da ponte, cheio de um indesejável prazer, consigo construir em minha mente o percurso de toda uma existência também indesejável; algo que escapa a simplicidade e obviedade de uma existência plena e harmoniosa com o mundo. Quem sou eu para julgar algo tão verossímil senão um filho da mãe que se despreocupa dos afazeres mais simples de um ser-humanóide moderno. Que vivência me justifica entender o olhar triste, desolado e sedento da puta como uma transgressão ao que eu desejaria à vida de qualquer criatura que seja? Nessa hora é que sorrio inconveniente. Aquele riso nervoso que me torna alheio a algum tipo de existência que me pareça sentencial, como um fruto de comportamentos padronizados pela moral majoritária ou qualquer preceito camufladamente aceito pela society.
Não sou digno de julgamentos, apenas descrevo minhas análises pessoais, que podem ou não ser descartadas. Mas não seriamos todos comparáveis a puta a espera do destino? O que pode parecer uma sentença no fim se torna mais um fracasso ou vitória colecionável. Acreditar naquela única saída enquanto o universo nos oferece infinitos caminhos. Se aproveitar de certas necessidades humanas para não fenecer diante dos inúmeros obstáculos que nos rende viver. Se agarrar a qualquer conveniência para satisfazer o que acreditamos ser de fato uma necessidade. Se entregar a algum prazer que pareça satisfatório. Essa sensação de satisfação é que nos faz pensar que o prazer é algo explorável e até negociável, o que acaba deturpando o sentido do amor, da amizade, da paixão, da compaixão, da própria experiência de estar vivo.
Só há sobriedade nas coisas que não sejam letais. O meu prazer está em viver tantas experiências diferentes em tão pouco tempo, sem esperar por momentos melhores ou piores, como uma criança enterrando as frágeis mãozinhas na areia molhada da praia pela primeira vez e experimentando as melhores sensações que a natureza de nossa existência pode oferecer. Denegrir, aceitar, ponderar ou ignorar são ações que identificam nossos pensamentos e o que fazemos com eles, só que ainda não sei qual é a pior delas. Cada momento de nossas vidas é irregenerável, passar por eles sem sorver no mínimo algo que possa me construir melhor é uma burrice irremediável na maioria das vezes cometida quando achamos que as coisas devem ser da forma que estão. Tudo é mutável e inconstante, a maior prova disso está no que você acredita ser o amanhã, mas que na verdade é sempre o hoje. Temos que aprender com as crianças.