quinta-feira, agosto 16, 2007

Reflexões...
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Atemporal
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O homem sem passado
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Um belo dia ele acordou tão cedo que mal podia enxergar suas próprias mãos diante do rosto. Andou com os pé nus sobre aquela superfície gelada, sem reconhecer quem um dia fora. Andou durante horas pensando no que fazia naquele lugar ermo, inóspito e completamente vazio. O lugar era tão vazio que nem mesmo o chão podia ser reconhecido, não havia gravidade, era impossível saber se o que era mais sólido ali era teto, parede, chão, ou a pura imaginação.
Depois de tanto tentar reconhecer aquele lugar, com tantas suposições na cabeça sobre como, quando, e porque foi parar ali. Era completamente absurdo pensar que se passava apenas de um sonho, pois sonhos têm formas, mesmo que distorcidas, cores apesar de confusas, tudo muito difuso e incompleto. Ali não. Tudo parecia ser exatamente como era. Não havia cores, nem formas, nem sons. Era tudo ligado diretamente com o pensamento daquele homem, que quando percebeu não haver sombras naquele lugar achou que havia morrido. Até que por um lapso percebeu que não importava abrir ou fechar os olhos, respirar ou não, andar ou ficar parado, era tudo sem fundamento naquele lugar. Não havia propósito nenhum que ele conhecesse ali. Era uma atmosfera absurdamente vazia.
Assim o homem ficou por horas. Perdido. Pensando...
"Você não tem passado, você não tem passado", repetiu o homem diversas vezes. Desconfortavelmente ele tinha razão, e aquela razão penetrava em seus tímpanos surdos como como dentes envenenados de serpente. Era o preço que ele havia pagado. Estava ali por vontade própria, e não havia como voltar atrás. Escolheu a solidão plena em troca de um passado pelo qual ele jamais quis ter vivido, escolheu o silêncio pleno em troca das canções que ele já não podia escutar, escolheu desaparecer em troca de olhar sua vida se consumindo, escolheu ser algo inviolável, inconfundível, abstrato, em troca de alguma certeza amarga.
Suas realidades eram testemunhas daquele pobre réu, julgado pelo pior crime que o universo impassivelmente julgara ser o pior crime. A pena, automática, era sentenciada por quem sempre fez as escolhas, sejam escolhas burras, amedrontadas, absurdas, inteligentes. O próprio homem se desfez de tantas possibilidades para curar uma ferida amarga que a vida o impôs. Se recolheu ao seu mundo vazio e sem espaço para a não ser ele.
Sua conciência foi aprisionada. O homem sem passado ja não existe.
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{by Ton}
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terça-feira, agosto 07, 2007


Sou um ilusionista
tão medíocre e desafortanado
quanto um desajeitado malabarista.
Sou faminto, sou sedento
como o vácuo,
como o vento.
Sou destroço,
sou perdido,
sou deveras esquecido.
E a vida, tão partida,
me desensina a saída
desse mundo,
desse escuro
que se tornou uma ferida.
Não sou forte, nem herói
sou humano, como tantos,
que consome e se destrói...
Como pode existir
criatura semelhante,
que, ao se despedir
do dia e da vida,
se esconde
num vívido semblante?
E assim morre
a todo estante:
desolado,
sozinho,
como morrem
os diamantes.
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{by Ton}
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domingo, agosto 05, 2007


As lembranças
são como navio,
como vela que apaga...
são distorcidas,
reparadas,
entorpecidas...
e, embora borradas,
são límpidas
quando as queremos
do nosso jeito.
Sem mágoas
nem defeitos...
são aguas
de um rio sem leito...
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{by Ton}
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