sábado, outubro 30, 2010

A foz do rio

Furado feito fé
Como bicho-de-pé na mão
Um espaço na foz do rio
Levou-me a outra dimensão
Elefantes bailarinos cantavam hinos
Mantras de cabeça no chão
Sentei-me na parede para ouvir
Enquanto o vento beijava minha testa
Desenrosquei os cérebros das arestas
Até encontrar cavalos-marinhos-voadores
E fadas cheias de dores nas asas
Loucas por uma bela massagem
Bebemos seiva de orquídea rara
Até afundarmos nas petúnias rasas
Sorriamos enquanto sentíamos dores
Vindas dos membros superiores
Cheios de invejas e inflamações
Então catei minha mala vazia
E voltei pra onde não preciso levar nada
Apenas meu coração

quinta-feira, outubro 28, 2010

des(cuidado)

No prumo da vasta imaginação
vou além de quem não vê
que basta fechar os olhos
pra não tarde entender
que de mim só fica a certidão
a pouca coisa que já fiz
nasci, cresci, tô aqui
mas o que sou e o que plantei
nem mesmo o rei pra consumir
como fiz pra ser eleito
ausência imoral da quarta
o mais anônimo perfeito
que pra dinheiro e pouca lealdade
não guarda espaço no peito
sim, sonho mais que criança
com febre de quarenta e três graus
mas não cabe ignorância
nas portas da percepção
pois quem rejeita toda dança
acaba preso na rota balsa
e nunca mais acorda na hora
nem a corda pra sair da nau
encontra... vai boiando
seguindo a frente
a fossa farsa falsa

segunda-feira, outubro 25, 2010

(des)culpa

Está na ponta da lei
A língua do estômago nu.
Cru desarranjo do chão
Flácido, desdobrado, onírico.
Mora ali no horizonte,
Feito vontade sem condição,
Ligação discreta com o rei
Entre satélites de Urano,
Suco da visão do meu lírico
Eu amontoado de revolução.
Gravando hora pra esquecer.
Fazendo das nuvens recruta
Da marcha foda do ano,
Eterna luta de projeção.
Constante busca,
Aceite minhas desculpas.
Se te errei de propósito.
Faltava quase tão pouco
Quando te fiz não me ver
Atrás desse azar rouco.
Mas meu irmão vem logo
Vem construir nosso novo balão

sábado, outubro 16, 2010

nova novidade

Sou essa coisa tão simples
Essa verdade que te dói
Sou o magma escorregando
Entre os ossos do cowboy
Você nunca diria
Estou assim
Só, tão distante de si
Quem me dera te encontrar
Mas de você restou cisto
Pois a distância te desfez
Mas não apenas ela
Toda sua tela
De nitidez se fez capela
Eu freguês
Das lindas donzelas
Expirando a tez
Da sóbria loucura
Tão pura doçura
Beleza quase nua
Sua vez!
Agora morde esses dentes
E disfarça a ira dormente
Que como jato
De lava viva
Anuncia
Voltei!

quinta-feira, outubro 14, 2010

será você

seu brilho me cega
sua guia me leva
entre sua lingua
e o inferno
me deixa esperar
tortura meu sono
desarruma a cama
e não chama na hora
canta devagar
sem avisar chegou
e prostrou a mão
que bela!
escorreguei na janela
para vê-la acenar
sem par, se foi
depois voltou
e foi demorando
cada vez mais a voltar
um dia desapareceu
fingiu que não viu
eu também esquivei
pra fugir do que
não sei

saí da foto

Quanta ignorância o 'querer aparecer' faz ter?
Quanto entendimento e sabedoria me dizes possuir!
Mesmo não tendo a principal elevação: humildade.
Reconhece em si mesma grandeza.
Julgando os pratos e peitos...
Pura fantasia!
Denegrir-se em ousada hipocrisia.
Pra não dizer outra coisa.
Transparente somos mais que pensamos.
Não me assusta essa pobre aparição,
Mais que as crianças pedindo na rua.
Ser estrela não requer esnobismo...
Nem dá vontade de dizer
Cresce!

quinta-feira, outubro 07, 2010

paixonite

Esse negócio de paixão
É um saco pro coração
Fechado a vácuo nem deixa o coitado bater
Fica tremendo insano
Andando de um lado pro outro
Sem sair do lugar
Não serve nem pra se perder
Fica sonhando acordado
Vendo espelho refletido em todo canto
Até no pranto dos bem-te-vis se apega
Vez em quando da uma de romeu
Tenta prosear legal e talz
Mas depois o pobre fica anêmico
Xumbrega
Quase não come de dor de nó na garganta
Esconde-se do sol das outras praias
Na acimentada primavera febril
Ouve a mesma musica a tantas
E só então lembra-se do lacre de emergência
Rasga o pacote
Sai louco feito trovão
Amedrontando até escuridão

Fernando Pessoa

exteriorinterio

toda energia
fonte de primazia
ontológica paternidade
suprema maternidade
deve ser respeitada
toda estrada
manipulada telepatia
jamais será eterna
só a terra
terna discípula
da vida fulgaz
ousada forma
digna da proteção
da minha microexistência
prosperará em meu
trabalho árduo
de consciência e evolução

terça-feira, outubro 05, 2010

corrente sul

é como uma nova passagem, uma nova corrente a me guiar
a necessidade de fortalecer os músculos e a cuca pra não pirar,
ou ser tragado de repente pela voz suicida da rotina
desmanchar as preces em cera de velas verdes
essa composição de descasos ocasos nús
batem a porta pra te pedir licença pra viver todo dia
e você nem pra vir ver o que está acontecendo lá fora
só entreabre o olho esquerdo embaçado de anestesia
e se enfia entre os dedos das mãos
antes de perder os pais e irmãos
ou a si próprio em meio a essa multidão de adaptados pratos fingidos
hoje tô afim mesmo de um sacrilégio espiritual
queimar essa cortina de aparências ignorantes e ouvidos entupidos
ir morar na plenitude simplória do matagal
mas sou podre e nojento demais para beber do pérfido tônico fluido
fico a contar as horas de conhecer outra dimensão
talvez seja minha condenação por não estar preparado pra ver esse mundo
onde defendemos ideais oriundos da ponta dos narizes sortudos
detentores da natureza do domínio dominical
fazedores de certezas e moldes fenomenais
que nem existem
apenas vieram servir-los
e persistem na convicção torpe dos horários e outdoors
pra mim resta a poeira e a vergonha de nada fazer
e assistir toda essa merda acontecer
e ter vontade de ter nascido ave para apenas triscar a superfície do mar com minhas patas
sem precisar me preocupar com o lastimável destino certo do mundo
fenecer