segunda-feira, agosto 30, 2010

vou agora mesmo, nesse minuto que passou

Eh
vou me chegar
tanta coisa pra rumar
tanto sonho pra sonhar
quase que me perco
na bagunça desse beco
só poeira
sobra tempo só pra rir
e torcer pra não sumir
nesse monte de faz-faz

qualquer hora
passa lá
pra trocar aquela prosa
se não tiver dizer
pode ser silenciosa
feito olhar de madruga
na janela debruçada
o rio de luz daquela joça

ou quem sabe num tropeço
soluçar sorrisos bestas
escrever amor no prumo
'semsaiar' algum começo
de fim
de mim partindo
de novo seguindo
o som-destino

vou lá

sigo o sino badalado
que só fala quando calo
na minha sina abafada
teus lençóis de furta-cor
de dedilhar meu quase ato
desaprovam meu pavor
quer meu sangue
provação
não sou santo
tampouco monge
mas tenho forte
o coração
que me leva distante
não tão longe
da pra ver
a sua mão
sombreada de sabor
sonho grande
sonho amor

domingo, agosto 29, 2010

não quero mais pensar
deixa fluir
desembolar
o vento marítimo
chega renovando
estação em estação
novo fôlego
depois da imersão
renova
revolta
na cortina de areia
vem com estalos
cavalo alado
me mostrar o tom
do amor
que não se perde em medo
da flor
que ainda em segredo
nasce
renasce
e me nutre de você
e se não for
desapareça
o seu disfarce
pra me abrandar
a alma argilosa
que por pouco
não se perdeu
na sua teia
perigosa

quarta-feira, agosto 25, 2010

desassossego

essa lúgubre estrada ensolarada
me cega de esperança
esse indiferente demônio
me desanima, me cansa
nem mesmo a rima
me faz criança de novo
pois já sou outro
cheio de sonhos perdidos
na bagagem algo esquecido
me fez desencontrar o norte
me fez perder a sorte
e de novo murmuro um canto
triste do adeus
de não querer essa façanha
amontoada na poeira
de desdizer minhas entranhas
o currículo que não quero levar
as besteiras que cansei de falar
já disse quase tudo
agora é hora de me calar
talvez espere um pouco mais
até alguém me presentear
contudo não vejo paz
no mundo o caos faz
desaparecer e reaparecer
das cartas do destino
o sentido do que vale
se meus cabelos estão compridos
ou a barba como vai
pouco importa, meu amigo
se já não posso olhar quem vem
na navalha afiada
fiz meu trilho
lá longe, aponta o trem
pra embarcar todo esse trago
pra desossar meu pobre zelo
vai e me deixa voar
me liberta desse apego
dessa dor pessimista
das notícias do desassossego

segunda-feira, agosto 23, 2010

Sacrilégio

Todo preço tem um acesso
nem toda variação
é o bom progresso.
Muito menos obtusor
como o motor,
que me leva pra lugares
iirrísórios e incorretos.
Mas do universo absorve
nuvem, fogo e robôs.
Sinto chegar ônibus
espremendo o fim do dia,
não me leva a nenhum fato.

Toda revolução a ascender
no balcão das super ofertas
discursa e tem no bolso retrato.

Tão querendo me vender algum destino.
Garantiram, mas mexeram em sonhos limpos.
Sugeriram que eu tinha uma escolha,
pois assim fico contratualmente livre.
Mas não deixaram eu comprar a bicicleta
que eu queria pra chegar no meu jardimbolha.

Só que um dia mesmo cansado, quase enfermo.
Mesmo atrasado, sem documentos e sem passado.
Estarei vivo em outro verso
ou num impresso que não foi lido,
ou só um dado
de uma cyber face.
Registrar me importa, é a porta do traço.
Do tronco, que me suporta.
No tombo, que me faz lívido
tomo equilíbrio pra ser de aço
e o discípulo de um sacro soro que é a vida!
Não tenho medo da renovação!

domingo, agosto 22, 2010

eleigão

Mas que merda do satanás
Na dá pra aguentar assim
não posso nem cagar em paz
que já tem gente querendo
convidar a sobra pra sair
vai e me deixa aqui
no meu trono flatulento
nojento, mas todo mundo faz
prefiro isso que perder
meu tempo com essa
tv pra burlar brasileiro
é sempre a mesma confraria
uns cagam, outros limpam
como a dialética da cidadania
e depois que digiro
vai tudo praquele lugar
nessas eleições já sei
qual botão vou pressionar
o da descarga!
xuáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

cria

cria cria, criatura
cria, cria, cria cria
crê no que depois
vai ser sua dúvida
cria tua nova fábula
cria em quase tudo
mas hoje descria
o caminho tortuoso
cria nova criatura
cria tua sinergia
que é vacina crua
contra(tua) alergia
cria nova
renovada fonte
cria em todo absurdo
nova caça, nova rua
ah, cria, cria, cria
essa bossa cria tua
é só dorso dalegria
que cansaço, criatura
perco a hora quando durmo
amanhã é outro dia
mas assim mesmo
cri a tua cria, cria, cria

quarta-feira, agosto 18, 2010

Colho amoras entre tragos
Olho em torno as possibilidades
Me cercam mas não me aguarde
Fazer nem uma parte desse cargo
Estudo a vida naturalmente
Encontro saídas e portas trancadas
Olhos vigilantes avisam pacientes
Que a sombra e vento
Não têm sórdida morada
Um passeio em volta
Me revela a verdade
Que agora é a nova clemência
Mas não garante a estada
Se quiser competir com as vespas
Adicione ao ferrão conciência

terça-feira, agosto 17, 2010

sonho tato

Esquenta meu lânguido tato
Desabotoa meu jeans e umedece
A boca cansada dos fatos
Apareça como sonho diário
Atrevessa com sopro quente
Minha viva carne mediata
Amanheça minha sombra dormente
Seja meu livro de cabeceira
Meu papel, minha letra
Absorva a pele rota e
Destoa a solidão da minha beira
Que te susurro no pescoço
Aquela melodia de ardor
Tange louca minha febre
Aconchegue a segurança
Do nosso quase amor
Cheio de desatinos e besteiras
Que adiam essa viga de lugar
Não despeça-se tão breve
Seja leve como flor
E me beije repentina
Até a noite acabar
Mas inadimitidamente
aquele devaneio ainda sinto
pois só não o digo... vivo!

segunda-feira, agosto 16, 2010

tinja cinzazul

Quando acordei ontem
pensei não ter ditongo
que me animasse.
Fiz rondas taciturnas em meu leito
a procura de uma alvorada alvoroçada,
mas o dia veio lento
e o sol quase nem me viu
Passei perto daqueles rabiscos
e alguns infames amores antigos
me disseram preu sair
Fui onde não lembro
Haviam tantos caminhos entre-passos
que me descobri na multidão de vagalumes,
tantos que não soube quem.
Na clareira, numa faca sem fio,
fiz morada na poeira da serra
Prolonguei a minha estada
deitado na manta da molhada grama
Quis a lágrima da chuva
na minha boca ressequida
Foram tantas amargas verdades
no cantejo dos lábios das fadas
que pensei não mais ter vida
Gritei mudo saraivada de palavras
obstruindo meus resquícios de esperança
Enquanto a fogueira de fogo fátuo
vinha pousando sobre meus calados pés
A dama as horas sagradas coroou
e minha porta fechada pronunciou três vezes
A morte é lenta mas voraz
a sorte venta, meu rapaz
a dor é forte, mas você mais!

Enfim decidi partir
Colhi as malas, os hiatos
e sumi dali

Vieram ouvir crianças o que vi
Desmantelei desconfianças
Nas aquarelas dela me destrai
Ensaiei tímido alguma canção
No fim aplausos de quase alegria
ouvi o dia cinza, quase engana,
desvela sambas, se perde aqui
na cidadela das falsas mangas
só dá pra ver cabides
de poeira e amarrotadas
velharias que deveriam
na chama pronta se consumir
Vamos, isso foi ontem
já é outrora nova fonte
profana e santa forma
do dia que agora
é meu faquir

sexta-feira, agosto 13, 2010

Rápido

Preciso dizer rápido minhas horas me devoram mas estou a correr pra dizer rápido que estou a pensar em você que daqui a pouco vou te encontrar em alguma bifurcação e te entregar uma canção de amor pra você levar pra onde for e correr rápido pra me reencontrar lá naquele lugar longe do acaso perto dos passos que vão nos orientar até onde ainda não sei mas vou rápido até esse dia raiar se me chamar estarei lá e não vou pra outra dimensão nem você vai virar nuvem a flutuar pois vou tão rápido pra te segurar em meu coração e seus olhos beijar e da angustia te curar e bem rápido vou lentamente te respirar em minhas mãos te acalmar e um novo caminho há de surgir um novo lugar há de sorrir pra nós dois que somos um assim tão rápido.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Observo

Da Terra há vista
Um espaço
Temida onipresença sem par
Sideral
Coisa escura sem leis a guiar
Cheio de vazios e etéreos contornos
Nada de bossa, rock’n’roll nem carnaval
Energias obtusas a se encontrar
Daqui de perto é só paixão
Olhar discreto destemido
Ansiando a resposta do infinito
Colateral
Dentro da órbita ocular
Certo das horas que passei
A esperar pelas respostas que amei
Ensinaram-me a desbravar
Questionar, duvidei
Do unissono da verdade
Reciprocidade turva
Que desertam meu sonhar
Reflexo
Abrupto de mim
Novas histórias, indivíduos
Que sou sem saber
Sou você no fim
E você é eu a dizer
Que entender não basta
Conhecer é casca
E não amar querer
É sorver
De saudade

domingo, agosto 01, 2010

vento que te beija

O vento que te beija
a ave que no ar graceja
a certeza, a cerveja
compartilhada
o encontro, a partida,
a chegada
Na distância horizonte
fumaça polida
a ilha
o mar
a despedida
Há muitos pés aqui
muita vida e paz
mas o que eu queria
já é outro dia
tarde que clara faz
eu sair por aí
desvelando a saudade
que luzia
...mas o que eu quero
é ser o vento