domingo, agosto 23, 2009

Vento

Estava um dia frio. Você esfregava suas mãos nas minhas tentando encontrar alguma temperatura. O vento estava forte, vinha do norte, mas nunca fora tão incoveniente como agora. Porém foi ele que nos expulsou dali.
- Não aguento mais esse frio! - você disse.
- Nem eu essa distância... - disse eu entre os dentes.
- O quê?
- Nem eu essa ventania!
- Preciso buscar uma blusa! Vamos?
- Te acompanho!
Andamos abraçados, mas ainda não nos aqueciamos. Conversamos sobre nada, apenas saiam palavras escondendo outras. Não diriamos nada.
- Chegamos! Preciso de um cigarro! ... era a denuncia de que não estavamos ali pela blusa.
- Tenho o último.
Fumamos juntos e calados até o fim do último trago. Agora o tempo passava mais rápido. A vontade era maior. O vento estava do lado de fora. Roubei-te um beijo.
- Não deveria, né?!
Fui ao banheiro. Olhei no espelho e não vi nada, lavei o rosto;
Agora estava quente.
- Acho que vou embora.
- Liga a tv para não ficarmos mudos.
- Sabe que não vou resistir a você.
- Sei!
Ainda mais quente.
- Sabe por que viemos?
- Estava frio!
- Não, estava distante!

Pescoços.
Lábios.
Linguas.
Nuca.
...mais quente.
Sapatos.
Meias
Calças.
Blusas.
...ferviamos.
Nos sopramos, mordemos, bebemos, beijamos, amamos, até o torpor!
Foi só uma recaída...

Nosso segredo, nosso amor protegido!
Quando não será apenas sonho?

quarta-feira, agosto 19, 2009

Calo

Ora tento ser eu
desato os nós
no tato de dois
amando somos um
Ora tento ser você
Desminto os atos,
calo os fatos...
...e de novo estou só.

[ToN]

domingo, agosto 09, 2009

Butter fly

Me encontrei, em meu próprio padoxal continente,
indagando sobre a existência desses seres chamados borboletas...
Sempre me pareceram tão leves e suscetíveis a desencontros.
Voam por aí com asas psicodélicas e delicadas, sem imaginar que voar é surpreendemente mágico para seres aquáticos como eu.
Alcançam a densidade dos ventos eternos dessa quase presente primavera e praticamente não vivem por sequer uma estação, talvez por sempre se embebedarem dos fluidos florais. Descansam sem entender o motivo dessa falsa busca pelo belo.
Intrínsecamente é sua própria metarmofose camuflante. Esmiuçando toda a grandiosa natureza, torna o fenômeno da vida o mais belo dos "admiráveis seres". Uma existência despretenciosa que distribui elos vitais ao mundo dos nossos subjulgamentos, até, exaustas de sua inflamação espiritual, voltarem a nutrir o plexo terrestre.
Tão fascinantes! Tão coloridas e hipnotizantes!
Dessas crisálidas ainda surgirão expledorosos contornos do mundo.
E meus olhos hão de acompanhá-los...

segunda-feira, agosto 03, 2009

Amor quase sóbrio

Por algum tempo acreditei que existia alguma dose alcoólica equivalente ao adormecer da sua ausência. Passei horas a cantar a minha alva querência de você, mas me tornei rouco antes de terminar a melodia que me traduzia...
Tantas almas solitárias se confundem diante de mim. Não sabem sequer se sou humano de carne e osso, no entanto não sou mesmo um poço de humanidade. Porém me considero humano o suficiente para não desconsiderar qualquer ser, humano ou não.
Sou também nesse momento alma solitária, pois minha intensa realidade nada mais é que abstração. Tantas teorias em pról do vão acaso de viver, sem conhecer a extensa capacidade de ser surpreendido pelo despropósito da vida. Faço então das feridas um calo resistente ao inevitável, tentando confiar nos meus sentidos confusos e me concentrar nas coisas que amo.
As coisas que se vão sem voltar são tão presentes quanto as coisas que jamais irão. A carne se vai. A dor. O rancor. Mas não o amor.O que sou agora é uma fração consequente do que sempre serei. Mas não serei só, pois minha missão é despertar o que se tem adormecido: o amor!