segunda-feira, julho 12, 2010

PARA [-BEIJOS] & [-QUEDAS]

Qualquer tarde de domingo parece ir vagueando pela janela lenta. Para despertar de tais períodos ociosamente diurnos faz-se todo aquele ritual de esperar pelo dia seguinte: segunda-feira. Mas até mesmo segundas são dias preciosamente inesperados...
Quando se olha de uma janela ao entardecer nem imaginamos o quanto as idéias estão a se dissipar em meio a tantos turnos e horários e planos. Se eu soubesse o quanto me espera num dia qualquer, talvez não vivesse e visse tantas imediações da vida. Mas foi quando a vi em meio a tantos distúrbios existenciais que percebi o quanto podemos evitar algo por simples incredulidade. Não me julguei por isso como costumo fazer na maior parte de qualquer dia da semana. Apenas a observei passar como se seu despenteio estivesse sob a minha janela. E mais uma vez esperava a segunda chegar.
A respeito de mim ela talvez soubesse mais do que ela mesma imaginava, e de repente já estávamos onde nossas peles encontravam o menor caminho de se encontrarem. Sim, achei muito confusa a brusquidão desse encontro de energias moleculares, mas também pensava ser mais uma dessas coisas que a vida cisma em derreter. E quando derrete não há temperatura que recupere o estado físico de antes. Como as coisas são torpes! Inventamos fórmulas para a vida como se ela realmente tivesse um padrão. Mas a verdade é que nunca se sabe como são as terças-feiras daquele senhor de idade que atravessa a rua com dificuldade de enxergar o outro lado. Eu apenas olhei para Ela e sorri. E senti como meu sorriso havia sido entendido.
− Olá! – ela me disse um dia depois.
E novamente nossos sorrisos se compreendiam. Engraçada essa história de conhecer alguém. Existe realmente algo conspirando em torno de todos os acontecimentos de nossas vidas? Já mudei de opinião sobre isso inúmeras vezes, mas aos poucos vou entendendo que somos nós mesmos que nos dispomos ao que vivemos. Sempre há alguma razão ou emoção envolvida, e que graça teria se não houvesse?! Talvez seja só um transtorno obsessivo da minha mente procurando sempre encaixar a vida numa linha contínua. Mania de qualquer ser humano, na verdade, de medir tudo que não seja controlável. As horas, os dias, o peso, volume, altura, profundidade. Eita mania besta!
─ Sabe aquelas estrelas ali? – ela me perguntou uma noite dessas. - ...devem ser uma constelação que não conhecemos. Digo não que só nós não a conheçamos, mas que ninguém no mundo a tenha batizado. Seria pretensão minha batizá-las da forma que eu quizer?
─ E por que não faz isso? – eu sempre faço essa pergunta.
─ Talvez não haja motivos para isso.
─ Os motivos partem de nós mesmos.
─ Constelação de mim!
Está aí, uma constelação inesquecível...

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa mania de limitar tudo acaba por nos impor falsas verdades. Acabamos achando que podemos prever os acontecimentos quando na realidade cada instante da nossa vida é algo inesperado e isso é o que torna o ato de viver ainda mais interessante.
O que seria de nós sem as surpresas?
O que seria de nós sem o amor?
O que seria de nós sem as palavras?
Será que ainda teríamos a chance de ser inesquecíveis?
Será?