quarta-feira, dezembro 29, 2010

chuva

Eu sento na calçada esperando a chuva passar. Junto com o lixo urbano e o sono do transeunte que se encosta e dorme debaixo da marquise. Alguns devaneios me rondam. Será o dilúvio? Um cigarro pra aliviar a ansiedade. Parece que não vai passar. Mas sei que no livro sagrado dos cristãos está escrito que em água não acaba, não. Não o mundo inteiro. Mas acaba um tanto de coisa. Um tanto de casas, um tanto de famílias. Graças a alguma coisa que apelidei de sorte estou aqui; o mendigo, a chuva, eu e mais dois amigos, o cigarro e o isqueiro. Não tenho pressa. Me demoro a pensar na chuva. Vem limpar, renovar nossas vidas. Fazer nascer um novo ato, um novo momento. Assim gosto de imaginar: o dilúvio dos sentimentos humanos. Que lave a mesquinhez, o orgulho, a ganância, a soberba, a covardia, o ódio. E nos deixe a sutileza de amar a natureza.

Um comentário:

Stefanie Figueiredo disse...

tem que lavar pois tá quase tudo imundo.