Quando acordei ontem
pensei não ter ditongo
que me animasse.
Fiz rondas taciturnas em meu leito
a procura de uma alvorada alvoroçada,
mas o dia veio lento
e o sol quase nem me viu
Passei perto daqueles rabiscos
e alguns infames amores antigos
me disseram preu sair
Fui onde não lembro
Haviam tantos caminhos entre-passos
que me descobri na multidão de vagalumes,
tantos que não soube quem.
Na clareira, numa faca sem fio,
fiz morada na poeira da serra
Prolonguei a minha estada
deitado na manta da molhada grama
Quis a lágrima da chuva
na minha boca ressequida
Foram tantas amargas verdades
no cantejo dos lábios das fadas
que pensei não mais ter vida
Gritei mudo saraivada de palavras
obstruindo meus resquícios de esperança
Enquanto a fogueira de fogo fátuo
vinha pousando sobre meus calados pés
A dama as horas sagradas coroou
e minha porta fechada pronunciou três vezes
A morte é lenta mas voraz
a sorte venta, meu rapaz
a dor é forte, mas você mais!
Enfim decidi partir
Colhi as malas, os hiatos
e sumi dali
Vieram ouvir crianças o que vi
Desmantelei desconfianças
Nas aquarelas dela me destrai
Ensaiei tímido alguma canção
No fim aplausos de quase alegria
ouvi o dia cinza, quase engana,
desvela sambas, se perde aqui
na cidadela das falsas mangas
só dá pra ver cabides
de poeira e amarrotadas
velharias que deveriam
na chama pronta se consumir
Vamos, isso foi ontem
já é outrora nova fonte
profana e santa forma
do dia que agora
é meu faquir
Nenhum comentário:
Postar um comentário